terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Sobre máquinas do tempo


Blog parado, talvez adormecido por um longo tempo, porque de tempos em tempos precisamos mesmo que os pensamentos tirem um descanso, às vezes uma soneca, às vezes uma hibernação.
No último ano estive viajando no tempo, não em um delorean como em De volta para o futuro, não em uma cabine telefônica, como em Doctor Who. Acho que a minha viagem no tempo tem sido muito mais analógica do que digital, mas ela vem acontecendo.

No filme ultrarromântico Um amor para recordar, o mocinho tenta realizar uma série de desejos da mocinha que sabia que em breve morreria e, um desses desejos era estar em dois lugares ao mesmo tempo. Para realizar esse desejo ele a leva no limite entre estados, coloca um pé de cada lado e a comunica sobre isso. A mocinha, saber que seu desejo foi realizado, dá um sorriso enorme, assim como aplicar uma tatuagem daquelas falsas de chiclete, mas, ao contrário dela, eu devo viver muito ainda, tenho duas tatuagens de verdade (e quero que sejam mais) e posso viajar no tempo, além de estar em dois lugares ao mesmo tempo como ela.

No meu caso não havia mocinho, não havia romantismo, só havia eu sozinha, vigiada por um guarda que estava do outro lado da rua em uma cabine, sentada em frente ao parque infantil que frequentei por toda a minha infância em pleno domingo de páscoa. Naquele dia, eu saí da minha casa no centro de São Paulo, peguei o trem e fui de volta para a minha terra, Franco da Rocha, para ter contato com o meu objeto de pesquisa do mestrado, o Hospital Psiquiátrico do Juquery, cujas memórias estavam guardadas em caixas bem escondidas lá no fundo do depósito da minha mente. Caminhar por lá novamente após tantos anos, e, mais ainda, após tantos anos vivendo fora de Franco da Rocha, abriu muitas e muitas caixas e gavetas de memórias empoeiradas. Dei a volta por todo o antigo hospital, mas, ao descer as escadas para ver o parque infantil, naquele momento parcialmente destruído pelo abandono e hoje demolido para a construção de uma nova escola, me fez ter contato com aquela menininha que por muitos anos esteve ali. Me fez pensar no que ela era, no que sou hoje e no que desejo para o futuro, para mim e para o Juquery. Creio que no momento em que estava voltando da visita dentro dos limites do parque e me sentei nas escadas para observar o que sobrou de uma parte da minha infância, eram as três versões de mim que observavam tudo e conversavam entre si: a menininha que fui, a pesquisadora que sou e a minha versão futura. E eu não sei quem aconselhava, quem abraçava e quem acalmava quem, mas estávamos todas ali naquele exato momento.

Durante o último ano eu conversei muito com meus colegas de mestrado e pude notar que todos os projetos de alguma forma têm uma relação pessoal profunda com seus pesquisadores. O mestrado é muito mais do que um curso, uma pesquisa, é uma realização de sonhos, de vontades, de desejos que, por muitas vezes, ficaram adormecidos, recebendo pequenos carinhos e visitas ocasionais por anos, até poderem ser tornar realidade, não porque os pesquisadores, ou sonhadores não quisessem colocá-los para fora, mas em muitos momentos não havia tempo ou oportunidade, não havia proximidade, não havia a possibilidade de realização ou até, nem sabiam com o que sonhar, mas sonhavam, e pesquisavam aqui e ali, até que um plano mais elaborado viesse à tona e a soma de acontecimentos e conjunções astrais permitissem que seus projetos fossem submetidos, avaliados e aprovados para serem finalmente estudados.

A ficção dos filmes e dos livros nos permite sonhar com grandes viagens e aventuras, nos permite fazer magia, nos permite imaginar mundos e lugares distantes, mas ser pesquisador nos permite viajar no tempo, nos permite enxergar o nosso sonho, conhecido também como objeto de pesquisa, de maneiras diferentes, talvez mais regrada, dentro dos padrões científicos, mas esses mesmos padrões, esse mesmo rigor nos permite expandir o que antes era sonho, nos permite encontrar mais um lugar de fala, que, no meu caso , antes era apenas o lugar da menininha que lutava para que o lugar onde ela brincou e cresceu fosse preservado, também o local da cidadã que entendia que havia a necessidade de dar luz a um lugar que para ela e outras pessoas é querido e cheio de memórias, mas para outros um lugar cheio de tristeza e sofrimento. Hoje a pesquisadora ainda está acertando o foco, mas, graças às pesquisas, ao rigor da ciência, a pesquisadora pelo menos sabe para onde deve apontar sua lente.

Em uma cultura como a nossa que enxerga os estudos como uma coisa chata, tediosa, cansativa, tem sido cada dia mais emocionante visitar a minha máquina do tempo particular. Conversar com a menininha, com a moça cidadã francorrochense sendo a pesquisadora a dona da palavra por cada vez mais e mais vezes é muito esclarecedor. Enxergar os projetos para o futuro através das notícias, dos eventos e dos amigos que frequentam ainda hoje o nosso velho Juquery é estimulante para novas ideias, novos entendimentos, trazendo sorrisos enigmáticos no rosto de minha versão futura.

Eu não creio que, pelo menos para o meu tipo de pesquisa, haja a possibilidade de eu desligar minha máquina do tempo, de desapegar das minhas outras versões do passado, mas é importante que eu converse cada vez mais com a minha versão presente, é importante lembrar a mim mesma que o meu atual lugar de fala é o de pesquisadora, para, quem sabe, se conectar com a minha versão futura em mais oportunidades. É muito importante lembrar aqui que as memórias não são como os fantasmas dos natais passados me assombrando, citando Charles Dickens, mas sim memórias, sopros, dicas de mim mesma, do meu subconsciente para escrever uma pesquisa científica, uma máquina do tempo. E não é assim o restante da nossa vida? De tempos e tempos uma conversa, um diálogo, um sussurro entre versões nossas do presente, passado e futuro?

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Luzes na escuridão (nem sempre são tão boas assim)

Há alguns anos eu estava sentada na pedra do Arpoador no Rio de Janeiro assistindo ao pôr do sol, num evento clichê, mas maravilhoso da cidade maravilhosa, quando olhei para o lado e vi que duas meninas estavam sentadas de costas para o Morro Dois Irmãos, onde o sol se põe, para poderem tirar fotos com o pôr do sol ao fundo. Não falavam do mar azul e calmo, ou dos turistas e moradores que estavam ao nosso redor, ou dos ambulantes que ofereciam de batidas e refrigerantes a biscoito Globo e camarão, mas só de como estavam ficando as fotos a serem postadas e se já estavam recebendo curtidas.

Outro dia estava no cinema e bem na minha frente, quando o filme já estava começando, alguém resolveu que era uma boa hora de dar check in no Facebook informando que cinema e filme estava assistindo.

Dias depois estava no teatro assistindo à uma peça super densa sobre o período da escravidão no Brasil. Um homem que sentou na frente e no canto do teatro resolveu filmar a peça com um celular daqueles bem grandes, chegando ao ponto de falar ao telefone e deixar cair o aparelho no chão com um estrondo para, em seguida, ficar virando o aparelho em todas as direções em pleno ambiente escuro do teatro e com a peça rolando. Ao sair do teatro ouvíamos mais comentários das pessoas sobre o grau de inconveniência do homem do que da peça.

Há uma semana fui ao Theatro Municipal de São Paulo assistir à peça musical O pequeno príncipe preto. Já não é a primeira vez que noto que lá quando as pessoas abrem os celulares durante os espetáculos há pessoas armadas com canetas laser para apontar as luzinhas vermelhas nos criminosos para que elas guardem os celulares, estejam elas filmando ou mandando mensagens e, mesmo assim, chegando a haver quatro luzinhas de laser em uma pessoa, a mesma continuou mandando suas mensagens tranquilamente. Nessa mesma peça teve uma, mais ousada, que chegou a atender uma ligação durante o espetáculo, que dura somente uma hora, irritando a todos ao redor e sendo conduzida para atender à chamada no corredor.

Hoje pela manhã fui a um evento que consistia de uma jornada de palestras feitas por profissionais voluntários e super capacitados, evento este quase gratuito que dificilmente eu teria acesso e que eu estava muito envolvida, participando e prestando muita atenção. Pois várias pessoas, ao invés de prestar atenção nas palestras, estavam lá com o celular aberto no colo ou em óbvio disfarce dentro da bolsa.

Nos últimos dias, conversei com diversas pessoas a respeito do uso do celular, do qual eu estou, cada vez mais, tentando viver com menor vínculo, uma vez que notei que o constante uso do aparelho só aumenta minha ansiedade e diminui o meu foco. Notei que há uma gradativa tendência das pessoas se darem conta do quão nocivo é o uso excessivo dos celulares nas relações e para o dia a dia e, alguns estão se trabalhando, em uma clara alusão ao fato de estarem viciadas no uso do aparelho, para se condicionarem a acessar menos e menos os danadinhos.

Sobre os meus relatos acima, será que precisamos mesmo postar tudo o que fazemos nas redes sociais? Será que falar com o mozão, um amigo ou parente durante um filme, palestra ou evento que dura no máximo duas horas é realmente necessário? Para períodos maiores não há intervalos programados quando os celulares podem ser usados livremente acompanhados de um cafezinho?

O que noto é que estamos sacrificando momentos de nossas vidas que nos pedem nossa total atenção para que gravemos o momento em nossa memória, os cheiros que sentimos, as conversas, as luzes, o que aprendemos com aquilo por uma postagem, por uma curtida, uma conversa que no dia seguinte já não vai ter a menor importância. Estamos nos conectando ao aparelho e às pessoas de nossa lista de contatos mas não com a gente mesmo e com quem está ali em carne e osso bem na nossa frente.

No filme de 2008, 10 anos atrás, podemos ver o que a animação da Pixar, Wall-E, previa (e deve ainda prever) para o nosso futuro caso continuemos a nos conectar tanto com os aparelhos e não com o mundo ao nosso redor. Além dos robozinhos super simpáticos, nós, os seres humanos, somos retratados como criaturas inertes, alienadas, que só se falam através de suas telas, sem sequer se dar conta de que a realidade é que não vivem mais no planeta terra, agora tomado por lixo produzido por nós mesmos. Eu sempre noto que as animações mostram muito mais do que personagens fofinhos e felizes, mas também uma mensagem e, tenho certeza, essa é a mensagem de Wall-E.

Eu posso ser chata hoje para muita gente quando reclamo nos eventos que não combinam com celular fazendo um sonoro "SHIU" ou soltando (voluntariamente ou não) um palavrão. Eu ainda filmo trechos dos shows que vou, quando há muitas pessoas e celulares já fazem parte do espetáculo. Eu ainda posto algumas coisas mais bacanas que faço nas redes sociais, mas é uma postagem rápida apenas. Acho sim que as redes sociais são uma ótima ferramenta para muitas coisas, incluindo a conexão com pessoas queridas que moram longe ou que não tenho a oportunidade de ver frequentemente. Mas cabe um pouco mais de empatia, já que quem está ao nosso redor pode se sentir deixado de lado porque interagimos mais com o celular do que com a pessoa. Também o coleguinha que sentou na poltrona próxima, e pagou caro pelo ingresso, quer aproveitar o filme / espetáculo / show / palestra / evento sem a interferência de uma luz brilhante na escuridão.

Outra coisa muito importante é a gente assumir a responsabilidade pelo nosso tempo, seja ele para diversão, trabalho ou puro ócio. Quando delegamos a nossa vida, que é a coisa mais preciosa que temos, a um aparelhinho desenvolvido por pessoas que nem conhecemos há algo bem errado com a gente. Antes as críticas eram dirigidas à televisão, que Renato Russo descreve em uma de suas canções como "Teatro dos Vampiros", mas hoje em dia o aparelho nos acompanha a todos os lugares, registra e acessa tudo o que fazemos, de curtidas a lugares onde estivemos, ao contrário da televisão que fica em casa quietinha quando saímos. Quando temos que dar satisfação do que fazemos a uma platéia virtual, que muitas vezes nem conhecemos profundamente, também há algo errado. Quando nos acostumamos a falar todo o tempo com as pessoas próximas a nós, inclusive durante um tempo que deveria ser só nosso, será que não devemos pensar como e porquê nos educamos a isso? Será que não merecemos ter um tempo com a gente mesmo, nem que sejam os minutos contatos de um filme ou espetáculo, que sabemos com antecedência, quando começa e quando termina? Será que não devemos nos programar de acordo com os eventos e não ficarmos semi presentes neles devido ao uso do celular? Nós, os mais velhinhos, sabíamos viver bem sem a tecnologia, que deveria servir para fazer a nossa vida melhor e não atrapalhá-la. Cabe a nós também nos educarmos e ensinarmos os mais novinhos que há um horizonte enorme de coisas bacanas a serem feitas quando levantamos nossos olhos das telinhas brilhantes, há um mundo enorme e bonito de pessoas e coisas a nosso redor e só o que nos impede de darmos conta disso somos nós mesmos.


quarta-feira, 23 de maio de 2018

O que você fez pelos seus sonhos hoje?

Há uns momentos das nossas vidas em que as coisas ficam fora de controle, por inúmeras razões, sejam provocados por nós mesmos ou por razões externas. Há momentos em que a gente tem que parar tudo o que estávamos fazendo, repensar tudo, refazer os planos para seguir em frente de outra maneira, ou simplesmente ir no automático para que a gente sobreviva e nisso pegamos os velhos sonhos, aqueles que carregamos conosco há muito tempo, tiramos da bolsa com a qual vivemos e saímos todos os dias para as batalhas diárias, para colocá-los em uma prateleira, fechadinhos e guardando poeira. Às vezes isso é bom, afinal é bom tomarmos distância de idéias de vez em quando para que nós, e as idéias, possamos amadurecer. Mas o problema é quando somos sugados pelo nosso dia a dia e simplesmente esquecemos dos sonhos ali fechadinhos à vácuo e, às vezes, o prazo de alguns sonhos pode sim expirar, podemos não ter mais tempo, seja ele fisiológico, cronológico ou até você mudou e o sonho não cabe mais na sua vida.
Sabe, em uma crise de vida a gente, e as pessoas que nos cercam, costumam desestimular a busca de sonhos, falam para que a gente só foque no prático, no hoje. Uma vez me lembro da minha avó já bem velhinha preenchendo cartelas da Mega Sena, e uma tia minha falando: mas pra que? Quem vocês acham que estava errado, a que sonhava ou a que desacreditava dos sonhos? Porque os sonhos nos fazem caminhar, dia a dia, senão viramos máquinas.
Será que a gente tem que ser tão prático assim? Será que a gente não pode tentar dar um passinho, mesmo que mais curto, na busca de um sonho durante um momento de crise? Será que esse passinho não pode ser um propulsor a mais para que esse momento de crise não se prolongue e até acabe mais rápido?
Mesmo que o seu sonho não possa ser realizado hoje será que há pitadas de realidade nele? Será que o seu sonho é factível, ainda que a longo prazo? Ainda que se mude as estratégias? Afinal, sonhar acordado em morar em vênus é muito diferente de sonhar acordado que mora na Espanha, por exemplo.
Sabendo-se que seu sonho é possível, cabe a você pensar em pequenas tarefas, pequenas pílulas diárias para alcançar seu sonho. Usando o exemplo de se morar na Espanha, você pode pesquisar sobre as cidades em que gostaria de morar hoje, amanhã sobre custo de vida, depois de amanhã, pensar se seu passaporte está em dia, se são necessários documentos, e assim por diante.
Se o seu sonho for comprar um bem mais valioso, como uma casa ou um carro, antes de se fechar a compra é preciso saber quanto custa, qual o modelo / planta, dentre outras coisas e cada dia colher mais e mais informações, juntar o que se pode te faz sim chegar lá, no tempo certo.
Se o seu sonho for um relacionamento, por que não se conhecer melhor, para assim saber exatamente qual o tipo de pessoa que você busca? Afinal se relacionar com pessoas com metas e visões de vida diferentes, além de personalidade e gosto musical muito distinto não costuma dar muito certo, mas antes de tudo é preciso se conhecer e para isso é preciso um processo de busca, precisa-se querer.
O que a gente não pode é deixar de sonhar e só viver no automático, senão a rotina engole a gente, a rotina destrói sonhos se a gente deixar e, mesmo que hoje não possamos realizar tudo o que queremos, um pouco de auto realização, um pouco de agrado, um pouco de acalento da gente para com a gente mesmo é muito importante, para semear mais sonhos (porque a gente não precisa ter um único sonho), para que a gente conquiste cada dia um pouquinho para um dia nem tão distante possa chegar lá, mas pra isso é preciso se mexer, dentro do possível.


quarta-feira, 7 de março de 2018

Quebrar a cara também faz bem

Ultimamente, muito mais do que antes, vem pipocando notícias na mídia sobre pessoas que, apesar de tudo, conseguiram sucesso no que se propuseram a fazer.
Da maravilhosa Rita Lee
Sabe aquelas notícias de um menino pobre que passou em todos os vestibulares do país, ou o ex detento que se diplomou e hoje é professor, ou o ex morador de rua que hoje é empresário e, talvez o mais famoso de todos, o ex camelô que hoje, além de apresentador mais famoso do Brasil, é também banqueiro e empresário? 
Eu tenho me perguntado se só as notícias de histórias de sucesso merecem ser propagadas, ou menos ainda, se devem ser contadas e compartilhadas em rodas de conversa. Claro que não vai estar em destaque no jornal o fato de eu ter torcido o pé e, por isso, ter ficado um mês com ele imobilizado, mas acho que grandes lições não vem sempre de grandes acontecimentos.
Eu penso que a gente não conta a nossa vida por anos, dias, minutos ou unidades de tempo, a gente enxerga a nossa vida por períodos, como a fase de determinado namoro, emprego, local em que morou, enfim, coisas que marcam uma sucessão de dias absolutamente iguais de pura rotina, do acordar, levantar, cumprir com as obrigações, deitar e dormir de novo. 
Mas, e se, em meio a tantos e tantos dias iguais a gente simplesmente resolvesse escutar mais vezes aquela vozinha que nos diz pra tentar fazer alguma coisa?  Por que não ouvimos essa voz que vem do nosso subconsciente que está ali tendo altos papos com o nosso consciente? Por que deixamos o medo que a outra vozinha diz ter nos dominar e, por isso, deixamos de fazer uma porção de coisas que, de repente, poderiam colorir esses dias tão cinza e iguais?
A minha teoria é que o nosso ego não suporta a ideia de termos nem a possibilidade de que podemos errar e nos decepcionar, seja com a gente mesmo, seja com os outros e o medo é um mecanismo de defesa para que isso nem sequer possa ter risco de acontecer. Como? Não nos arriscamos, simplesmente não fazendo nada e, assim, seguimos o baile que é a nossa vida.
Eu não sei se é só a maturidade, ou tantas vezes em que passei por perrengues, que, de uns tempos pra cá, eu resolvi que essa vozinha deve ser ouvida mais vezes. Afinal, quem sabe fazendo as coisas de uma maneira diferente, de repente, o resultado pode ser diferente, melhor para mim  por uma série de motivos. E, olha, eu estou provando empiricamente que estou certa, sabe, aquela vozinha esperta que eu vinha ignorando por tanto tempo sabe das coisas e, não, nem sempre as coisas dão certo, mas, agora que eu me ouço mais, eu posso, ao menos, tirar ensinamentos e sair da inércia do eterno questionamento do "e se?".
No final do ano eu tentei algo que eu queria fazer há mais de dez anos. Não deu certo, mas através dessa experiência eu pude aprender uma série de coisas sobre mim e minha relação com as pessoas e instituições e, agora mais do que antes, eu sei que sou muito capaz, porque foi quase. Agora eu posso ter a escolha de decidir se vou ou não tentar de novo, porque já sei mais sobre o processo todo.
Eu, também, aprendi que as pessoas não mordem, e que não custa nada falar com elas por qualquer que seja o motivo.
Além disso, somos todos rodeados por pessoas que nos amam e que nos ajudam todos os dias a bancar as nossas decisões, elas deem certo ou não, você esteja bem ou não. Seja forte, tenha coragem e peça ajuda se precisar. Eu cresci sendo criada para ser independente e olha, quebrar esse paradigma foi difícil, mas tem sido necessário nessa minha viagem de auto conhecimento.
Outras vozes com outras ideias vão vir sempre, afinal estamos conversando com a gente mesmo o tempo todo, ponderamos sobre se podemos ou não, se vamos gostar ou não, se vai dar certo ou não, se vamos sofrer ou não, se somos capazes ou não e, olha, acredite na sua vozinha, converse com ela e não a sufoque. Não deixe passar dez anos, quando sua vida estiver em outro contexto, quando os resultados podem ser outros, não deixe de criar oportunidades pra você mesmo, sejam elas grandes como um emprego ou pequena, como passar por um caminho diferente do que você faz todos os dias. "A vida acontece quando, você está ocupado fazendo planos" (John Lennon). OU A vida acontece quando você simplesmente age, conversando menos com você mesmo e fazendo mais.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

Cada um tem seu tempo

Recentemente eu aprendi o seguinte:
- Quando se fala que "já é tempo de fulano tomar um jeito na vida" ou algo similar você está mais preocupado consigo mesmo do que com fulano.
- Quando se pula um tempo necessário de recuperação, na maioria das vezes, você está pensando nos outros e não em você. Eu sei que a pressão externa é grande, eu sei que a opinião dos outros pipocando de todos os lados é inconveniente, mas cada um conhece o seu tempo.
Eu percebo que existe o tempo orgânico para a cura que é o que o corpo leva para curar de um mal físico. Eu mesma já me atropelei fisicamente indo fazer uma trilha após pouco mais de um mês de operada. O resultado? Passei mal, fiquei com dores e fui abandonada pelo restante do grupo no meio da mata e morri de medo. Foi preciso eu passar por isso pra hoje em dia eu não me forçar mais, se eu sinto que algo não está bem eu fico mais quietinha.
Também existe o tempo psicológico, que é o tempo que precisamos para racionalizar e até digerir novas ideias. É o tempo do perdão, é o tempo para se tomar uma decisão, é o tempo preciso para mudanças de vida, é o tempo necessário para aceitarmos um fato, às vezes muito óbvio para os outros mas não tanto para a gente. A nossa relação com os outros e com a gente mesmo é altamente influenciado por esse tempo, afinal o tempo de cada um varia muito. Há pessoas práticas e que tomam decisões rapidamente. Há pessoas que demoram para absorver mudanças e há pessoas que nunca perdoam. Eu sei que esse tipo de tempo pode ser aprimorado durante a vida, mas a nossa essência permanece a mesma. Eu estou trabalhando no meu tempo individual, e acho que estou melhorando, mas é aos poucos, porque além do meu próprio tempo eu venho sentindo o impacto das minhas decisões para quem está ao meu redor.
O último tipo de tempo que eu aprendi é o tempo corporativo. O tempo mais inflexível que existe. É o tempo das contas a serem pagas. É o tempo da licença maternidade. É o tempo das férias, da licença médica, da hora de almoço. É o tempo dos contratos, das entregas, dos prazos e a gente tem que tentar se ajustar ao máximo a esse tempo. Eu sempre fico imaginando como é para as minhas amigas grávidas, passar pela gravidez, entender que você vai ser mãe, entender que sua vida vai mudar, preparar sua vida e sua casa para receber esse novo ser com sua personalidade e seu próprio tempo. Tudo isso tem que caber em nove meses de gravidez, em média, e mais aproximadamente quatro meses de licença médica. Eu penso que muitos relacionamentos não ficam oficiais nesse tempo, mas a mãe tem que dar à luz, conhecer e amar dentro desse tempo determinado.
Eu sei que o tempo corporativo é muito mais inflexível e muita gente, como eu, tem dificuldade de se adaptar a ele. A questão é que para algumas coisas a gente tem que ser criativo e buscar caminhos alternativos.
Mas com relação ao tempo orgânico e ao tempo psicológico a gente tem que ser mais tolerante com a gente mesmo e com quem está ao nosso redor. Perdoar a gente mesmo e aos outros nem sempre é fácil. E há muito mais em jogo do que você poder voltar a conviver com duas pessoas que um dia se amaram de alguma forma. E há tipos diferentes de perdão. Muitas vezes a gente vai em frente, mas a confiança não é recuperada, a gente simplesmente não consegue. E está tudo bem assim. Cada um dá o que consegue.
Não adianta querer forçar uma situação, as coisas vão acontecer quando tiverem que acontecer. A gente também tem que buscar perdoar a gente mesmo e saber que há o nosso tempo para isso. Eu sei que essa culpa, essa coisa fica ali pesando como uma daquelas bolas de ferro que os presos usavam não nos deixando ir pra frente. Mas haverá uma hora em que a gente se livrará desse peso e vai voltar a caminhar. Na hora certa.
O que não se pode é usar a questão do tempo como muleta e deixar de ir em frente. Como no tempo físico em que para sarar uma lesão muscular fazemos fisioterapia, precisamos fazer um exercício para melhorarmos nosso tempo psicológico, mas sem forçar e com bondade, da forma em que for mais confortável. Cada um pode buscar sua maneira, seja fazendo terapia, seja pedindo conselhos de pessoas a quem admiramos, seja meditando... O que importa é termos tolerância, paciência, deixando o julgamento de lado. E, muito importante, é evitar comparar o seu próprio tempo com o tempo dos outros.É muito pesado pra gente pensar que nesse tempo você já deveria ter feito determinadas coisas. Você tem seu tempo e as demais pessoas tem seus respectivos tempos e não há problema nisso, aliás, acho que isso, em certo nível, deixa as coisas mais divertidas. O seu tempo vai chegar no momento certo, quando você estiver preparado, afinal esse tempo que está levando o leva a experimentar outras experiências para prepará-lo para esse momento, já pensou nisso? Mais uma vez, tenha paciência consigo mesmo!
E você aí, pessoa querida que vem pensando em alguém e dizendo: já era hora de fulano mudar de vida. Já era hora de beltrano tomar uma decisão. Já era hora de tal pessoa perdoar. Já era hora de tal pessoa fazer determinada coisa. Eu digo pra você: pratique a empatia! Por mais próximo que você seja da pessoa, por mais que você a ame, por mais iguais que vocês sejam, vocês não são a mesma pessoa. E sim, eu repito: quando eu digo que a sua preocupação é mais com você do que com a pessoa é a pura verdade. Se a pessoa te incomoda, se a pessoa te preocupa, se você se responsabiliza muito pela pessoa, sua preocupação é muito maior com você mesmo do que com ele/ela.
Eu te convido a exercer a empatia. Ouça, dê conselhos se esses forem solicitados, mas, muito mais do que isso: ofereça ajuda, mantenha o braço estendido e mostre à pessoa que você está ali para ajudar. Isso é muito mais valioso, isso é empatia.
E qual a moral da história? O que eu quis dizer com tudo isso?
Para caminhar  tenha paciência, tolerância e bondade consigo mesmo, e não deixe de tentar ir em frente, no seu tempo.
Para ajudar alguém a caminhar, exerça a empatia. Ofereça seu abraço, sua bondade e não julgue. Um abraço aquece e levanta, um dedo em riste afasta, entristece e faz o outro dar um passo para trás, para dar espaço ao seu braço e ao seu dedo apontado.




segunda-feira, 19 de junho de 2017

Meus patronos

Todo mundo tem uma batalha grande na vida. Todo mundo!

Há momentos em que as batalhas são tão grandes e cansativas que, se fossem narradas como nas aulas de História, seria preciso uns cinco dias consecutivos, mapas, ilustrações e professores de cursinho, daqueles animados, pra cansar menos.

Sim, eu estou no meio de uma dessas batalhas, venho tendo dias de cansaço, venho tendo dias de desânimo, venho tendo momentos em que eu duvido das estratégias usadas, me sinto pequena frente ao poder desse inimigo, mas tenho descoberto que tenho um time de soldados mais poderoso do que eu poderia supor. Esse meu time guarda armas secretas até de mim mesma, porque nas horas de necessidade o inimigo pode se infiltrar, como aconteceu recentemente.

Agora estou aqui, lambendo as feridas, usando do tempo que me foi concedido para entender o porquê do ataque surpresa, repensando em estratégias, buscando novos aliados, pesquisando novas armas, afinal de contas, o inimigo é poderoso e essa batalha foi vencida, mas a guerra não, ainda não.

Ali na internet todos os dias eu vejo frases motivacionais, vejo o lançamento de novas canções que tem como intuito ter coragem, que por dentro eu sou uma fera, ou que eu sou maravilhosa 'cause I born this way... Mas hoje, só agora nesse momentinho eu quero reclamar e podicrê, eu tô reclamando à beça (calma leitor, vou te poupar desses detalhezinhos).

Mas, como a nossa vida não é facinha assim como nos filmes, nos quais as pessoas ou só tem um problema ou, melhor ainda, aparece um forasteiro que já enfrentou suas batalhas e, por isso tem cicatrizes que lhe dão charme, que chega um dia, do nada na vida de alguém e consegue resolver tudo, com um final perfeito e tocando alguma música que te faz sorrir enquanto sobem os créditos. Isso não acontece com a gente... por isso, amanhã quando eu acordar, tenho que pensar em todos os outros problemas / batalhas que tenho pela frente, mas meus dois pequenos escudos, talvez os meus pequenos patronos, sim porque eu tenho dois, sempre me lembram do foco, sempre me lembram de como sou importante, que eles estão comigo e que no final vai dar tudo certo e eu sou muito grata, muito!




domingo, 30 de abril de 2017

Sobre dar um tempo

Quando a gente fala em dar um tempo a primeira coisa que se pensa é em relacionamento né? Provavelmente é o que você que está aí lendo pensou, é o que o Google pensa quando se digita "dar um tempo" ali no campinho de busca, é o que as músicas dizem...

Mas não é sobre relacionamentos que estou pensando, pelo menos não nos amorosos. Tem uns momentos na vida em que a gente precisa dar um tempo em determinadas coisas, em determinadas pessoas, em determinadas situações. Mas por que? Porque cansa, porque é preciso, porque muitas vezes precisamos retomar o fôlego.

É muito difícil a gente fazer como nos filmes, viajar, ser feliz por um tempo escapando da realidade para depois retomar a vida normal. Mas a gente precisa de umas pausas de algumas situações e, também muito importante, a gente precisa entender que as pessoas precisam dessa pausa. Todo mundo precisa de um espaço.

Lá na época da faculdade, no meu primeiro ano, me lembro da minha professora dizendo que os trabalhos precisam de um tempinho na gaveta, descansando pra que a gente pudesse voltar a eles com tempo para rever os erros. É claro que quase sempre a gente entregava os trabalhos na última hora, mas sempre me lembro disso, por que é preciso desbitolar das situações.

Muitas vezes precisamos ficar no nosso cantinho não só para nos recuperar de situações, mas porque não queremos falar sobre o assunto que nos incomoda. E isso não necessariamente tem a ver com quem falamos, mas só de ter de falar sobre é difícil.

Quando eu era mais nova eu achava que se ficasse um final de semana sem sair é porque tinha algo estranho. Hoje eu entendo que temos fases. Temos a fase de sair todo final de semana e temos a fase de ficar em casa comendo e vendo Netflix. Temos também a fase de ter sempre a lista de contatinhos ativa. E temos a fase de nem querer olhar pro Whatsapp. E não há nada de errado com nenhuma das opções! Simplesmente porque temos que respeitar o nosso próprio tempo.

O que a gente não pode é alimentar a nossa própria ansiedade com o excesso de curiosidade com o que está acontecendo com o tempo do outro. O que a gente pode é demonstrar que apóia e que estará lá assim que o outro voltar, seja esse outro um amigo, um parente, um contatinho, um amor... porque quando se volta de um tempo de qualquer coisa o ideal é que o que é de verdade fique pra sempre,

Eu mesma já usei o "dar um tempo", inconscientemente, para fugir de conflitos. Muitas vezes fico chateada e, ao invés de conversar, eu dou um tempo. Frequentemente fui mau interpretada, simplesmente porque as outras pessoas não são obrigadas a saber o que estou pensando. Estou em processo de aprendizado sobre o meu uso do dar um tempo, talvez as minhas doses não tenham sido tão homeopáticas quanto pensei, mas sabe, cada um tem seu jeito, o que importa é a gente estar sempre em busca da dose correta.

Quem sabe, quando eu voltar a estudar, eu volte fazendo os trabalhos com antecedência pra que eu tenha mais tempo de corrigi-los (sinceramente eu duvido disso, mas a gente tenta)? Quem sabe eu seja menos bitolada com as situações? Quem sabe eu fique menos ansiosa com o tempo do outro? Quem sabe eu um dia aprenda a usar o tempo na medida certa, sem deixar de enfrentar conflitos? Quem sabe?

E você? Tá sabendo dar um tempo na hora certa? Tá desbitolando? Tá sabendo lidar com o tempo dos que o cercam? Me conta aí...