quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Sobre ouvirmos nossos próprios conselhos

"Dar bons conselhos - as pessoas gostam de dar o que mais necessitam. Considero isto a mais profunda generosidade" (Oscar Wilde)

Eu sou o maior exemplo que conheço de que deve-se ouvir os próprios conselhos. Sabe aquele post ali atrás sobre as pequenas vitórias? Durou mais ou menos um mês.
Sabe quando eu digo: "calma, você já tem o não, abra possibilidades pra uma resposta diferente". Então né? Sendo uma pessoa ansiosa eu, muitas vezes, acabo travando ao tomar uma decisão. Por que? Porque eu me apavoro tanto com uma possibilidade negativa que acabo ficando no meio do caminho.
E quando eu digo que organização gera produtividade? Pois é, isso funciona no trabalho, mas vai ver minha casa e minhas coisas como estão. "Casa de ferreiro..."
Tem também a do "não fica nervoso(a), você tendo tanto medo de errar, pensa tanto nisso que Murphy vem junto com seu pensamento e você acaba errando". Quem é a maior medrosa de errar e vive sendo traída por si mesma?????? Tá falando com ela!!!
Sabe, eu sei que é muito mais fácil ajudar os nossos amigos com conselhos porque não estamos envolvidos na situação e uma visão de fora nos traz o distanciamento necessário para vermos as coisas com mais clareza. Mas eu tenho aquela invejinha de pessoas mais racionais, que conseguem enxergar as coisas de forma mais pragmática. Eu gostaria de viver a vida com menos "e se..." pra tudo e mais "é isso!", mas leva um tempinho esse aprendizado né? Trata-se de um exercício diário uma vez que é uma mudança muito maior do que passar a arrumar a cama todo dia ou comer menos pão de queijo (eu amo pão de queijo!)
Cada vez que damos um conselho, a gente está doando um pouco do nosso auto conhecimento, já que damos ao outro um pouquinho do que já vivemos, e um pouquinho da forma como vemos o mundo.Mas se você aí que estiver lendo estiver pensando: Poxa Be, você dá conselhos, fala coisas boas pros outros, mas não consegue seguir o que você mesma disse? Não seria hipocrisia? 
Eu te digo que não, meu caro leitor, não é hipocrisia. Eu não sou tão boazinha não viu, mas quando dou conselhos eu digo o que eu faria naquela situação, de verdade, ou pelo menos o que eu gostaria de fazer, o que eu acho certo. Uso o melhor da minha empatia!
A questão é que temos uma percepção de nós mesmos muito diferente do que o mundo vê, pelo menos isso acontece comigo e com a maioria das pessoas que conheço. Pra desempacar e seguir os nossos conselhos precisamos realmente acreditar que podemos fazê-lo e não ficar com a ideia de que é o certo mas não somos capazes. A Xuxa naquela música Lua de Cristal dizia: "Tudo pode ser, se quiser será / O sonho sempre vem pra quem sonhar /Tudo pode ser, só basta acreditar" e acho que é isso mesmo, ao imaginar a situação temos que de antemão achar que vamos realizá-la (estou ciente que essa música e o filme homônimo não têm muita credibilidade porque é a Xuxa fazendo par romântico com o Sergio Malandro, mas tudo bem, o que vale é a intenção).
Mais do que acreditar nos nossos conselhos, precisamos acreditar que eles funcionam pra gente também. É por isso que eu escolhi a citação do Oscar Wilde que inicia esse texto: falta mais generosidade com a gente mesmo, falta escutarmos o que nós mesmos dizemos, falta a nossa razão ter mais empatia com nosso coração, e vice versa.
E como mudar isso? Olha, eu ainda não sei te dar uma resposta definitiva, mas os exercícios que faço escrevendo para mim mesma, fazendo listas (listas <3) e prestando mais atenção no que eu digo e como reajo a isso pra mim tem sido um bom começo.
E você faz o que você diz?






segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Fazer o que se gosta

Todo mundo tem não só um, mas vários dons, certo?

Tem gente que gosta de escrever, tem gente que gosta de costurar, de bordar, de pintar... eu sei que você aí que está lendo sabe fazer uma coisinha... Alguns levam esses dons para o lado profissional, como os músicos, os escritores, os estilistas... mas muitos acabam guardando essas habilidades somente para si e as pessoas mais próximas.

Mas vocês já pensaram que quando colocamos para fora essas habilidades estamos nos conectando com nós mesmos? Fazer o que se gosta, o que se tem habilidade, é uma forma de de nos auto presentear e talvez até de nos expressar, de nos ajudar a nos entender, porque afinal a gente é sim responsável pelo que a gente fala e não pelo que os outros entendem.

Pois bem, há alguns momentos na vida em que a gente meio que se perde. Muitas vezes deixamos a rotina tomar conta de nós, o trabalho tomar conta do nosso tempo, e até nos deixamos de lado, simplesmente esquecemos da gente. Sabe, para mim, mais importante do que passar hidratante, maquiagem, é o auto cuidado com a nossa alma e nem estou falando de religião. Nossa alma precisa respirar, ela precisa exercer suas aptidões nem que seja em um nível mais básico, nem que sejam uns minutinhos do nosso dia. Sem isso nossa alma vai adoecendo devagarinho, vai perdendo a luz, vai perdendo o significado.

Em sua origem, dom vem de dádiva, de doação, Trata-se de um presente que recebemos ali quando somos pequeninos. Por isso eu acho um desperdício tão grande quando pegamos esse presente que recebemos tão cedo sendo colocado numa caixa ali em cima em uma prateleira empoeirada. Apesar das piadas que fazemos e lemos na internet, eu tenho certeza que essa vida não pode ter sido feita apenas pra correr ali dia a dia, semana a semana, mês a mês, ano a ano apenas se alimentando de rotina, de viver pra pagar boleto. Eu acho que a gente deve viver e não somente sobreviver.

De uns tempos pra cá, eu estou aos pouquinhos me conectando comigo mesma e sentindo quão reenergizada eu fico ao fazer o que eu gosto, a fazer o que me foi presenteado. Desde que voltei a escrever eu já me reconectei com amigos de longe, pessoas compartilharam meus textos dizendo que eles tem ajudado a outras pessoas, e, muito mais do que isso, eu sinto que tirei um peso grande das costas, uma energia ali parada que atrapalhava. É como se escrevendo e produzindo, eu estivesse desatando nós e botando a casa em ordem. Fazendo meus artesanatos maluquinhos é como se as cores materializassem para o bem. Outras coisas boas vem sendo atraídas para mim. Parece mágica! Parece que finalmente o tal livro O segredo está funcionando.

Se vale de alguma coisa, se eu for útil pra você que está lendo essas minhas palavrinhas eu diria pra que você vá lá e toque seu violão, ou faça seu crochê, ou escreva seus contos, ou faça a faxina na sua casa, ou vá lá cuidar de uns animais, ou o que quer que a sua alma necessitar. Eu digo que materializando de alguma forma o que passa na nossa cabecinha ajuda os pensamentos, ajuda a nossa vida a ter sentido. Ajuda a ver um pouco de fora do que a gente é capaz. Nos ajuda a nos ligar com a gente mesmo.

E você? Qual seu dom? Arruma lá um cantinho pra ele, vai?




terça-feira, 27 de setembro de 2016

Pequenas vitórias

Estava eu ontem vendo meu Facebook quando apareceu na minha time line um post da Mariliz Pereira Jorge no qual ela falava da importância de comemorar e ter orgulho de nossas pequenas vitórias.

Aqui o print direto do Facebook da Mariliz
Isso não vale só para quem está, como eu, se recuperando de um quadro de depressão, ou aquelas pessoas em recuperação de algum vício. Vale para o nosso dia a dia, vale para suportar, usando uma expressão do Cazuza, as nossas dificuldades de liquidificador.

Essa semana eu estou super feliz por ter levantado e arrumado a cama todos os dias. Também estou bem contente por estar conseguindo cozinhar e lavar todinha a louça em seguida. E extasiante de felicidade por ter separado uma montanha de roupas para doação e ter conseguido levar tudinho aqui na caixa de coleta do prédio. Tudo isso me dá a sensação de energia se renovando, de brisa fresca chegando, de primavera chegando na minha vida.

A Mariliz fala sobre ter acordado cedo e ter ido malhar. Eu ouço pessoas que estão rindo de orelha a orelha por estar conseguindo fazer dieta, outras por arrumar a gaveta de documentos, por dar início a uma leitura acumulada, por ir lá e finalmente se matricular no curso de inglês que sempre quis e ir direitinho nas aulas, por sair com o cachorrinho pra passear, por pregar aquele quadro que ganhou de presente há dois anos naquele lugar mais bacana da casa...

A gente tem sempre aquela pedrinha no sapato, aquela atitude que a gente não sabe porque cargas d'água está sempre empacada. É possível viver sem esse movimento? É! Mas é um alívio tão grande quando a gente se liberta e consegue finalmente ir em frente. Parece que abre as portas para novas ações, parece que dá mais coragem.

Há ainda o próximo desafio e sabe qual é? Depois de começar criar o hábito, é manter-se com essa tarefa sempre em ordem. 
"De acordo com os estudos (...), leva em média 66 dias para que alguém adquira um novo hábito, ou seja, comece a fazer algo que antes não era costume de maneira automática. Mas esse número é uma média e ele variou bastante de indivíduo para indivíduo e, claro, dependendo do hábitos. Beber um copo de água depois do café da manhã demorou cerca de 20 dias pra se transformar em hábito. Exercitar-se levou 84 dias para virar hábito para um dos participantes de um estudo." (fonte)
Isso quer dizer que vou ter uns 66 dias ininterruptos de arrumação de cama daqui pra frente. Vamos que vamos!

E o que eu, nesse post de auto ajuda (literalmente, porque estou me auto ajudando), aprendi com isso? 

Lá no começo do filme Hitch Conselheiro Amoroso ele diz: “A vida não é feita dos momentos em que você respirou, mas sim dos momentos em que você perdeu o fôlego". Mas isso é o que a gente lembra lá na frente, quando formos velhinhos. A gente lembra dos momentos marcantes, e não dos dias em que ficamos em casa comendo pipoca e vendo Netflix, não do dia em que resolveu que ia arrumar a cama todos os dias ou daquela manhã em que decidimos correr no parque religiosamente. Mas são esses momentos, os da libertação dada por essas pequenas vitórias, que nos fazem chegar um pouco mais sãos ali na frente, nos nos fazem caminhar dia a dia, porque sim, o ser humano vive de recompensas e a maioria delas é auto recompensa.

E você qual a sua pequena vitória de hoje? 




quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Let's talk about depressão

Aqui uma coleção de imagens sobre o assunto
Ok, eu vou falar rápido, como quando tiramos um band aid: sim, eu tenho depressão! 

E você aí que está lendo, por favor, não se espante muito com essa informação, sabe por que? Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) 121 milhões de pessoas no mundo sofrem com essa doença, sendo ela a doença mais incapacitante da atualidade e a tendência é que o número de pessoas aumente daqui para a frente.

E,ainda assim, quando falamos desse assunto as pessoas arregalam os olhos, falam baixinho, cochicham entre si, porque há um preconceito grande com relação a essa doença, simplesmente porque quem nunca passou por ela não consegue ter ideia de como ela é tendo apenas uma vaga noção pelo que vê nos filmes e na literatura. Eu posso dizer que é terrível, não é frescura e que não é, pelo menos não deveria ser, vergonha nenhuma.

Ainda, em nossa sociedade simplesmente não é aceitável que você não esteja feliz. As redes sociais nos forçam a passar para o mundo a imagem de felicidade constante através das fotos e palavras que postamos. Se você está triste ou chateado o tolerável é que poste no máximo uma indireta ali torcendo para que carapuças sejam vestidas.

Mas sabe, é bem difícil de ter um diagnóstico de que estamos realmente sofrendo com depressão. Muitas vezes leva anos. Muitas vezes achamos que estamos bem, mas ela acaba voltando bem devagarinho.

Mas que raios vem a ser depressão? Eu sou uma pessoa extremamente curiosa e tenho lido mais e mais sobre o assunto simplesmente porque eu acho que para vencer o inimigo é necessário saber o máximo sobre ele e, no caso da depressão, também é necessário que tenhamos um auto conhecimento maior. Ao contrário do que as pessoas dizem, depressão não é simplesmente tristeza. A definição que mais gosto vem de um autor chamado Andrew Solomon que diz que o "oposto de depressão não é alegria, mas sim vitalidade". Quando a depressão toma conta, a falta de vitalidade faz com que a pessoa deixe de fazer as coisas que mais gosta, deixe de cuidar das coisas do dia a dia, deixe de cuidar de si mesma, e não por preguiça, mas por não ter energia para isso e nem para nada. 

As causas podem ser inúmeras, podendo ser genéticas, podendo ser uma resposta a um acontecimento da vida ou até sem um real motivo, mas todas elas tem em comum as alterações bioquímicas dos neuro transmissores do cérebro. Para quem quiser ler mais há links bem interessantes e de fácil leitura como aqui e aqui.

Mas e quais os sintomas? Olha, são vários e para ser depressão eles tem que estar atuando em conjunto, mas alguns deles são:
  • Humor depressivo ou irritabilidade, ansiedade e angústia;
  • Desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as coisas
  • Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer em atividades anteriormente consideradas agradáveis
  • Desinteresse, falta de motivação e apatia
  • Falta de vontade e indecisão
  • Sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero, desamparo e vazio
  • Pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa autoestima, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, ruína, fracasso, doença ou morte.
  • A pessoa pode desejar morrer, planejar uma forma de morrer ou tentar suicídio
  • Interpretação distorcida e negativa da realidade: tudo é visto sob a ótica depressiva, um tom "cinzento" para si, os outros e o seu mundo
  • Dificuldade de concentração, raciocínio mais lento e esquecimento
  • Diminuição do desempenho sexual (pode até manter atividade sexual, mas sem a conotação prazerosa habitual) e da libido
  • Perda ou aumento do apetite e do peso
  • Distúrbios do sono;
  • Dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas médicos. (fonte).
Se eu já senti esses efeitos? Sim, a maioria deles! E não, não é culpa da pessoa. Depressão é uma doença, assim como qualquer outra que precisa ser tratada corretamente. Como? Primeiro a pessoa tem que reconhecer que está com algum problema, só assim após procurar um médico e psicólogo, que são os profissionais que podem diagnosticar essa doença, a pessoa vai ter a disciplina de tomar uma medicação diariamente e frequentar a psicoterapia.

Tristeza é passageira, luto, seja pela perda de um ente querido, seja o termino de um relacionamento, de um emprego ou algo importante para a pessoa, vai amenizando, problemas superamos, mas para curar a real depressão, precisamos mesmo de ajuda profissional de um psicólogo e/ou médico.

Aí lendo tudo isso, se você estiver pensando: "mas Be, pelo que eu vi até agora eu não tenho depressão, sorry por você, mas isso não é comigo".Querido leitor você leu ali em cima no começo quando eu disse que mais de 121 milhões de pessoas tem depressão, não foi? Isso significa que com certeza alguém com quem você convive, alguém que você ama pode estar sofrendo e talvez precisando de ajuda.

Você pode ajudar a pessoa a reconhecer em si os sintomas que eu descrevi e, com a maior delicadeza, ajudá-la a procurar um especialista, mas, se a pessoa já estiver diagnosticada e estiver começando o tratamento há outras formas de ajudar, como? Vou dar alguns exemplos práticos do que não fazer e o que fazer quando se convive com alguém com depressão:

- Tenha paciência! E eu digo isso por dois motivos, primeiro porque a depressão altera muito o foco fazendo com que a pessoa fique mais dispersa, desligada e tenha maior dificuldades de raciocínio. Eu mesma estou atualmente com dificuldade em fazer a coisa que mais amo na vida que é ler livros. O segundo motivo é que a depressão nos traz uma visão mais negativa das coisas e isso não significa que a pessoa seja negativa, mas por causa da doença muitas vezes falta positividade quanto a nós e quanto aos outros, então calma.

- Um dos sintomas da depressão é a culpa. Nos culpamos por não conseguir fazer as coisas básicas, nos culpamos por não conseguir acompanhar os amigos, nos culpamos por nos sentir sempre atrás nas coisas, nos culpamos por não conseguir socializar e quando socializamos nos culpamos por ter saído de casa porque nos sentimos cansados, irritados ou lentos perto dos outros. Há culpa em tudo o que fazemos e isso é extremamente cansativo. Então dizer coisas que relativizem e menosprezem o sofrimento não ajuda, só aumenta a culpa, só cansa mais.

- Não force a barra! A gente sabe que precisa tomar uma atitude, que praticar esportes faz bem e ajuda, que tomar sol e respirar ar puro é bom porque nos auxilia com vitamina D. Mas, muitas vezes, o estágio da depressão é tão alto que não é possível fazer essas coisas. É preciso um tempo de tratamento para que a pessoa vá recobrando a energia e ela vá voltando aos poucos no ritmo dela, respeite esse ritmo.

- Eu sei que muitas vezes as pessoas tem uma super boa intenção quando me dão conselhos como procurar uma religião, ou fazer algum trabalho pra distrair a mente seja artesanal ou pra ganhar dinheiro, ou que o primo do vizinho da sua cunhada foi num lugar mágico e místico que fez bem pra ela... mas a gente tende a ir em lugares de acordo com a nossa fé e de acordo com o nosso próprio tempo. Viver com depressão é viver um dia de cada vez e, em muitos dias, é uma vitória abrir a janela, ir até a padaria, conversar com o porteiro... imagina fazer uma atividade que precise de criatividade? Imagine ir a um lugar de fé, mas uma fé diferente da sua e pra você acreditar e entender leva um tempo (lembra da dificuldade de aprendizado que eu disse ali em cima?). Além disso cada pessoa é diferente da outra e nem sempre o que é bom para você vai ser bom para o outro.

- Não é pessoal, a gente continua a gostar de você, mas em meio a uma crise de depressão nem sempre "te ver é ter beleza e poesia" como diz o Renato Russo. Muitas vezes é mais fácil ficar em casa quieto com a TV ligada do que ter que lidar com os demais seres humanos. Isso porque na nossa sociedade a gente tem que ficar dando justificativas pras coisas que fazemos. Um exemplo: se você sai com amigos e diz que não está bebendo porque está tomando medicação, eles vão querer saber em detalhes que doença é, que remédio, por quanto tempo, o que aconteceu... já viu né? Se a gente pedir um tempo, só nos dê um tempo que logo a gente volta.

- Ofereça ajuda, ouça, mas evite polêmicas, assuntos demasiadamente pesados, cobranças. A depressão é extremamente cansativa porque causa tensão muscular e outros sintomas físicos, mas é também cansativa porque, apesar de estarmos mais quietos, a nossa cabeça está à mil, e a gente está sempre em diálogo com nosso inconsciente, geralmente brigando com ele e tentando afastar os pensamentos negativos. Imagina adicionar a isso mais cobranças? Lembre-se que a depressão é altamente incapacitante e mesmo assim, apesar de estarmos nos cuidando, o mundo lá fora continua a girar, as contas continuam a chegar, temos que trabalhar e há a cobrança de todas as pessoas a nosso redor.

- Conselhos são bem vindos, muito porque a depressão reduz a nossa capacidade de tomar decisões porque o foco fica menor e porque, em muitos casos como o meu, há sintomas de ansiedade quando o cérebro pensa pensa pensa em todos os cenários possíveis para o momento da tomada de decisão e o futuro todo após a decisão tomada. Dê o conselho se ele for pedido, mas não tente impor sua opinião a qualquer custo. Nossa auto crítica já está à níveis extremos e simplesmente não há espaço pra mais, colocar o dedo na ferida só espanta a pessoa que você ama e com quem se importa. Os melhores conselheiros nesse momento são o psiquiatra e o psicólogo porque eles estudaram para isso e nos dão uma visão imparcial da situação, sem emoções pessoais.

- A autora Tati Bernardi em seu livro "Depois a Louca sou Eu" disse: 
"Agora tomo um remédio de manhã. Que engulo como se fosse uma vitamina que a natureza fez brotar para mim de uma frondosa árvore outonal. Nem sei o que estou escrevendo, mas sei que não me parece química, de verdade. As pessoas me dizem: “larga essa merda”. Segurando seus copos, seus cigarrinhos, seus vícios todos, suas manias, suas madrugadas fritas, seus dias fazendo de conta que não é assim, seus ipods, phones, pads. Quem é que larga essa merda? Quem é que para de chacoalhar a perna, estalar o pescoço, ranger os dentes, torcer os dedos do pé até soar um barulho relaxante de quebrado? Vamos como der". 
Sabe, eu estou sempre ouvindo das pessoas "- Mas você tá tomando remédio? Isso faz mal! Isso vicia! Isso é química! Assim que você melhorar você pára". Toda vez que ouço isso eu penso: eu estou bem porque, além da terapia, estou tomando remédio e parando de tomar o remédio eu não vou ficar bem. Cada um na sua, cada um faz o que funciona para si. Tem gente que fuma seu beck, tem gente que come, tem gente que toma coca cola todo dia ou milhares de xícaras de café. Tem gente que faz sexo, tem gente que faz massagem, tem gente que faz acupuntura, tem quem possa ir para Paris para esquecer e acha que é um excelente tratamento. Eu tomo meu remédio e ele está funcionando e pra mim, pra psicóloga, pro psiquiatra que me receitou isso é o suficiente!

- Ajuda mesmo é companhia, solidariedade, empatia, carinho, boa vontade;

- Ajuda muito mostrar disponibilidade, ainda que não queiramos ver ninguém;

- Ajuda mostrar que a pessoa tem qualidades, porque em muitos momentos a gente esquece disso. Mostre que você acredita, que se importa e que não vai julgar;

- Você acha que não consegue ficar quieto sem dar sua opinião? Você acha que é frescura? Você acha que tem que ir lá e fazer a pessoa se mexer? Então guarde pra você tudo isso e não faça nada, no tempo certo as coisas melhoram;

Usando uma analogia até simplória, quando decidimos fazer terapia e tomar a medicação, é como se fôssemos uma caixa novinha de quebra-cabeças: a caixa está ali bonitona, lacrada, mas para montarmos a imagem que tem ali na caixa é necessário romper o lacre, espalhar as peças, separá-las por algum método e só então ir encaixando as peças. É a mesma coisa quando fazemos terapia, é preciso colocar as peças em ordem e, por isso, nos sentimos revirados por dentro, com uma sensibilidade muito maior. Cada vez que saímos de casa é como se jogássemos as peças de volta para a caixa com tudo ainda não finalizado, porque pro mundo lá fora é difícil aceitar a confusão de algo inacabado.Geralmente as pessoas se contentam com a caixa, isto é, a aparência de saudável e isso evita perguntas e evita exposição maior. Logo, se uma pessoa que você conhece te disser que está com depressão, muito provavelmente ela confia em você, uma vez que ela está se expondo em vista do preconceito que ela tem consigo mesma e também dos demais. Honre essa confiança!

Sabe, o processo de cura é lento, leva meses tomando medicações que tem péssimos efeitos colaterais, muitas vezes trocando de profissionais e experimentando novas medicações. Ás vezes demoramos pra acertar um psicólogo tanto por empatia pessoal, como pela linha de trabalho e experiência do profissional (vai por mim, eu já passei com vários profissionais e só agora acertei -obrigada Bele!!). Mas é preciso se lembrar que a pessoa não vai ser assim pra sempre, que é uma doença que tem cura, e que no final do processo haverá uma pessoa melhor com mais auto conhecimento e uma visão não mais cinzenta, mas cheia de cor e vida. Mas é preciso ter paciência e fé, principalmente em si mesmo.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Eu, eu mesma and my body

Há um tempinho meu amigo querido, Caio me pediu para escrever sobre a minha relação com meu corpo para um projeto dele chamado Pele Livre.

Há um tempinho tanto meu cérebro como meus dedos andavam anestesiados para uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida: escrever. São fases, eu sei, mas, por que não ir em frente e desenferrujar por mim e pelo meu amigo querido?

Desde criança eu sempre me senti bonita. Não linda e maravilhosa, mas bonita. Porque minha avó e minha mãe diziam. Porque os amigos diziam, Porque parentes diziam. E, mais do que tudo, porque eu pareço muito com a minha mãe e eu a acho bonita, assim como as pessoas a nosso redor também.

Sempre fui magra, quer dizer, quase sempre, mas aí eu comento lá na frente...

Na pré-adolescência eu aprendi o que eram cravos e espinhas, eu aprendi o que era cólica e TPM;
Na adolescência eu aprendi o que era estria e celulite;
No final da adolescência eu aprendi o que é cicatriz, graças à primeira cirurgia para tratar de uma doença de mulher nos novos tempos, chamada endometriose.

Uma coisa que aprendi é que a mulher ao ver seu corpo não leva em conta só o que vê com os olhos e através do espelho. Nosso olhar funciona com múltiplos filtros, seja o da TPM, seja o de uma fase de stress, seja de uma fase de depressão, seja o olhar das pessoas com quem nos relacionamos... nós mulheres somos sim influenciadas por comentários, pelo que vemos nas revistas e na TV, ainda que a gente não admita isso sempre.

Também ao longo da vida sempre teve essa coisa da comparação. Meu primeiro namorado adorava ver algo em mim que se parecesse com celebridades. O segundo sempre me comparava com a garota de quem realmente gostava (sem eu saber, é claro) e dizia em tom de brincadeira: 'se você engordar eu largo você."

Ainda bem, eu tenho uma boa genética. Ainda bem eu não mudei muito com o tempo.

Conforme a vida foi mudando eu mudei principalmente os cabelos, afinal cabelo cresce e a gente pode mudar de novo e de novo e de novo...

Nos episódios de depressão eu tive sim estágios distintos de graus de cuidado com meu corpo. Porque a depressão rouba a nossa energia e a nossa vitalidade e, quando não temos vitalidade da alma, para que cuidar do corpo?

Lembra que eu disse que quase sempre fui magra? Pois nos últimos dois anos eu ganhei muito peso por conta da ansiedade e stress. Comendo eu me senti feliz e sim, gula é o meu pecado favorito e eu amo sentar em um bar e em restaurante com meus amigos por horas para conversar sobre qualquer coisa e eu também amo cozinhar. Por isso eu saí do meu manequim 38 que me acompanhou quase que a vida toda e fui para 44! Eu me vi nas fotos com braços rechonchudos e me assustei. Mas quando meu tio me disse: 'você está gorda!" Eu me rebelei, não comigo, mas com ele!! Afinal eu sou uma dama e não se fala assim com uma dama!

Porém, e sempre tem que ter um porém, para somar à endometriose e à depressão eu descobri que tenho mais uma doença super moderna chamada Síndrome do Intestino Irritável, ou SII para os íntimos. O que isso significa? Que um monte de comida gostosa me faz muito mal e, para que eu viva melhor eu tive que parar ou diminuir o consumo de um monte de coisas que incluem carne, lactose, industrializados, entre outros. O resultado? Tô magra de novo e quase sem dor de barriga! Hoje eu sei como é o drama de ser ex quase gordinha.

Mas depois de se fazer trinta anos, depois de se fazer trinta e poucos anos, eu noto que antes eu saía mais vezes sem maquiagem porque ao longo dos anos manchinhas, ruguinhas e outros inhas surgiram em meu rosto. Hoje quando vou à praia os biquines são maiores, afinal, ao meu ver a celulite se reproduziu exponencialmente. Hoje a barriguinha não volta ao lugar com uma simples dietinha. Hoje quando seguram minhas mãos eu tenho pequeninos calos de fazer serviço, especialmente de casa. Hoje meus pés não são mais tão macios. Hoje aparecem cabelos brancos aqui e ali e eu sempre os arranco quando vejo, afinal em mulher cabelo branco é sinal de desleixo, não é mesmo? Hoje eu não me sacrifico mais fazendo depilação porque eu tenho muita alergia e acho que não mereço um sofrimento duplo só para agradar aos outros e não, não me sinto suja porque não depilo tudo, simplesmente porque não sou suja e tomo banho todos os dias. Hoje acho que me influencio menos e faço mais o que me der vontade.

Me visto sem seguir muito a moda, mas do meu jeito. Gosto de feminilidade, gosto de referências antigas, gosto de me sentir bonita, gosto de imprimir visualmente o meu estilo. Mas não uso saia muito curta por causa da bunda grande herdada da minha avó e porque não gosto de ouvir besteiras quando ando na rua. Com o passar do tempo eu aprendi a disfarçar as imperfeições e a mostrar o que acho mais bonito, de forma sutil, é claro.

E qual a minha relação com o meu corpo afinal? Hoje não posso dizer que me sinta tão confortável como me sentia com vinte e poucos anos. Hoje não uso mais blusas curtas mostrando a barriguinha. Mas acho que tenho uma boa relação comigo mesma. Eu aprendi com o tempo, com o que me disseram e com o que vivi que meu corpo é meu e eu devo respeitá-lo e respeitar a mim, mostrando-o para quem eu quiser e achar que merece. É claro que, como mulher, eu vou lutar para que ele não envelheça tão rápido e vou acabar fazendo um botox ou coisa assim, mas acho que meu corpo é um troféu a ser cuidado, afinal ele é o resultado do que vivi e é com ele que vou viver o que provavelmente será a outra metade da minha vida, ou até mais.