segunda-feira, 10 de julho de 2017

Cada um tem seu tempo

Recentemente eu aprendi o seguinte:
- Quando se fala que "já é tempo de fulano tomar um jeito na vida" ou algo similar você está mais preocupado consigo mesmo do que com fulano.
- Quando se pula um tempo necessário de recuperação, na maioria das vezes, você está pensando nos outros e não em você. Eu sei que a pressão externa é grande, eu sei que a opinião dos outros pipocando de todos os lados é inconveniente, mas cada um conhece o seu tempo.
Eu percebo que existe o tempo orgânico para a cura que é o que o corpo leva para curar de um mal físico. Eu mesma já me atropelei fisicamente indo fazer uma trilha após pouco mais de um mês de operada. O resultado? Passei mal, fiquei com dores e fui abandonada pelo restante do grupo no meio da mata e morri de medo. Foi preciso eu passar por isso pra hoje em dia eu não me forçar mais, se eu sinto que algo não está bem eu fico mais quietinha.
Também existe o tempo psicológico, que é o tempo que precisamos para racionalizar e até digerir novas ideias. É o tempo do perdão, é o tempo para se tomar uma decisão, é o tempo preciso para mudanças de vida, é o tempo necessário para aceitarmos um fato, às vezes muito óbvio para os outros mas não tanto para a gente. A nossa relação com os outros e com a gente mesmo é altamente influenciado por esse tempo, afinal o tempo de cada um varia muito. Há pessoas práticas e que tomam decisões rapidamente. Há pessoas que demoram para absorver mudanças e há pessoas que nunca perdoam. Eu sei que esse tipo de tempo pode ser aprimorado durante a vida, mas a nossa essência permanece a mesma. Eu estou trabalhando no meu tempo individual, e acho que estou melhorando, mas é aos poucos, porque além do meu próprio tempo eu venho sentindo o impacto das minhas decisões para quem está ao meu redor.
O último tipo de tempo que eu aprendi é o tempo corporativo. O tempo mais inflexível que existe. É o tempo das contas a serem pagas. É o tempo da licença maternidade. É o tempo das férias, da licença médica, da hora de almoço. É o tempo dos contratos, das entregas, dos prazos e a gente tem que tentar se ajustar ao máximo a esse tempo. Eu sempre fico imaginando como é para as minhas amigas grávidas, passar pela gravidez, entender que você vai ser mãe, entender que sua vida vai mudar, preparar sua vida e sua casa para receber esse novo ser com sua personalidade e seu próprio tempo. Tudo isso tem que caber em nove meses de gravidez, em média, e mais aproximadamente quatro meses de licença médica. Eu penso que muitos relacionamentos não ficam oficiais nesse tempo, mas a mãe tem que dar à luz, conhecer e amar dentro desse tempo determinado.
Eu sei que o tempo corporativo é muito mais inflexível e muita gente, como eu, tem dificuldade de se adaptar a ele. A questão é que para algumas coisas a gente tem que ser criativo e buscar caminhos alternativos.
Mas com relação ao tempo orgânico e ao tempo psicológico a gente tem que ser mais tolerante com a gente mesmo e com quem está ao nosso redor. Perdoar a gente mesmo e aos outros nem sempre é fácil. E há muito mais em jogo do que você poder voltar a conviver com duas pessoas que um dia se amaram de alguma forma. E há tipos diferentes de perdão. Muitas vezes a gente vai em frente, mas a confiança não é recuperada, a gente simplesmente não consegue. E está tudo bem assim. Cada um dá o que consegue.
Não adianta querer forçar uma situação, as coisas vão acontecer quando tiverem que acontecer. A gente também tem que buscar perdoar a gente mesmo e saber que há o nosso tempo para isso. Eu sei que essa culpa, essa coisa fica ali pesando como uma daquelas bolas de ferro que os presos usavam não nos deixando ir pra frente. Mas haverá uma hora em que a gente se livrará desse peso e vai voltar a caminhar. Na hora certa.
O que não se pode é usar a questão do tempo como muleta e deixar de ir em frente. Como no tempo físico em que para sarar uma lesão muscular fazemos fisioterapia, precisamos fazer um exercício para melhorarmos nosso tempo psicológico, mas sem forçar e com bondade, da forma em que for mais confortável. Cada um pode buscar sua maneira, seja fazendo terapia, seja pedindo conselhos de pessoas a quem admiramos, seja meditando... O que importa é termos tolerância, paciência, deixando o julgamento de lado. E, muito importante, é evitar comparar o seu próprio tempo com o tempo dos outros.É muito pesado pra gente pensar que nesse tempo você já deveria ter feito determinadas coisas. Você tem seu tempo e as demais pessoas tem seus respectivos tempos e não há problema nisso, aliás, acho que isso, em certo nível, deixa as coisas mais divertidas. O seu tempo vai chegar no momento certo, quando você estiver preparado, afinal esse tempo que está levando o leva a experimentar outras experiências para prepará-lo para esse momento, já pensou nisso? Mais uma vez, tenha paciência consigo mesmo!
E você aí, pessoa querida que vem pensando em alguém e dizendo: já era hora de fulano mudar de vida. Já era hora de beltrano tomar uma decisão. Já era hora de tal pessoa perdoar. Já era hora de tal pessoa fazer determinada coisa. Eu digo pra você: pratique a empatia! Por mais próximo que você seja da pessoa, por mais que você a ame, por mais iguais que vocês sejam, vocês não são a mesma pessoa. E sim, eu repito: quando eu digo que a sua preocupação é mais com você do que com a pessoa é a pura verdade. Se a pessoa te incomoda, se a pessoa te preocupa, se você se responsabiliza muito pela pessoa, sua preocupação é muito maior com você mesmo do que com ele/ela.
Eu te convido a exercer a empatia. Ouça, dê conselhos se esses forem solicitados, mas, muito mais do que isso: ofereça ajuda, mantenha o braço estendido e mostre à pessoa que você está ali para ajudar. Isso é muito mais valioso, isso é empatia.
E qual a moral da história? O que eu quis dizer com tudo isso?
Para caminhar  tenha paciência, tolerância e bondade consigo mesmo, e não deixe de tentar ir em frente, no seu tempo.
Para ajudar alguém a caminhar, exerça a empatia. Ofereça seu abraço, sua bondade e não julgue. Um abraço aquece e levanta, um dedo em riste afasta, entristece e faz o outro dar um passo para trás, para dar espaço ao seu braço e ao seu dedo apontado.