segunda-feira, 27 de junho de 2016

Eu, eu mesma and my body

Há um tempinho meu amigo querido, Caio me pediu para escrever sobre a minha relação com meu corpo para um projeto dele chamado Pele Livre.

Há um tempinho tanto meu cérebro como meus dedos andavam anestesiados para uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida: escrever. São fases, eu sei, mas, por que não ir em frente e desenferrujar por mim e pelo meu amigo querido?

Desde criança eu sempre me senti bonita. Não linda e maravilhosa, mas bonita. Porque minha avó e minha mãe diziam. Porque os amigos diziam, Porque parentes diziam. E, mais do que tudo, porque eu pareço muito com a minha mãe e eu a acho bonita, assim como as pessoas a nosso redor também.

Sempre fui magra, quer dizer, quase sempre, mas aí eu comento lá na frente...

Na pré-adolescência eu aprendi o que eram cravos e espinhas, eu aprendi o que era cólica e TPM;
Na adolescência eu aprendi o que era estria e celulite;
No final da adolescência eu aprendi o que é cicatriz, graças à primeira cirurgia para tratar de uma doença de mulher nos novos tempos, chamada endometriose.

Uma coisa que aprendi é que a mulher ao ver seu corpo não leva em conta só o que vê com os olhos e através do espelho. Nosso olhar funciona com múltiplos filtros, seja o da TPM, seja o de uma fase de stress, seja de uma fase de depressão, seja o olhar das pessoas com quem nos relacionamos... nós mulheres somos sim influenciadas por comentários, pelo que vemos nas revistas e na TV, ainda que a gente não admita isso sempre.

Também ao longo da vida sempre teve essa coisa da comparação. Meu primeiro namorado adorava ver algo em mim que se parecesse com celebridades. O segundo sempre me comparava com a garota de quem realmente gostava (sem eu saber, é claro) e dizia em tom de brincadeira: 'se você engordar eu largo você."

Ainda bem, eu tenho uma boa genética. Ainda bem eu não mudei muito com o tempo.

Conforme a vida foi mudando eu mudei principalmente os cabelos, afinal cabelo cresce e a gente pode mudar de novo e de novo e de novo...

Nos episódios de depressão eu tive sim estágios distintos de graus de cuidado com meu corpo. Porque a depressão rouba a nossa energia e a nossa vitalidade e, quando não temos vitalidade da alma, para que cuidar do corpo?

Lembra que eu disse que quase sempre fui magra? Pois nos últimos dois anos eu ganhei muito peso por conta da ansiedade e stress. Comendo eu me senti feliz e sim, gula é o meu pecado favorito e eu amo sentar em um bar e em restaurante com meus amigos por horas para conversar sobre qualquer coisa e eu também amo cozinhar. Por isso eu saí do meu manequim 38 que me acompanhou quase que a vida toda e fui para 44! Eu me vi nas fotos com braços rechonchudos e me assustei. Mas quando meu tio me disse: 'você está gorda!" Eu me rebelei, não comigo, mas com ele!! Afinal eu sou uma dama e não se fala assim com uma dama!

Porém, e sempre tem que ter um porém, para somar à endometriose e à depressão eu descobri que tenho mais uma doença super moderna chamada Síndrome do Intestino Irritável, ou SII para os íntimos. O que isso significa? Que um monte de comida gostosa me faz muito mal e, para que eu viva melhor eu tive que parar ou diminuir o consumo de um monte de coisas que incluem carne, lactose, industrializados, entre outros. O resultado? Tô magra de novo e quase sem dor de barriga! Hoje eu sei como é o drama de ser ex quase gordinha.

Mas depois de se fazer trinta anos, depois de se fazer trinta e poucos anos, eu noto que antes eu saía mais vezes sem maquiagem porque ao longo dos anos manchinhas, ruguinhas e outros inhas surgiram em meu rosto. Hoje quando vou à praia os biquines são maiores, afinal, ao meu ver a celulite se reproduziu exponencialmente. Hoje a barriguinha não volta ao lugar com uma simples dietinha. Hoje quando seguram minhas mãos eu tenho pequeninos calos de fazer serviço, especialmente de casa. Hoje meus pés não são mais tão macios. Hoje aparecem cabelos brancos aqui e ali e eu sempre os arranco quando vejo, afinal em mulher cabelo branco é sinal de desleixo, não é mesmo? Hoje eu não me sacrifico mais fazendo depilação porque eu tenho muita alergia e acho que não mereço um sofrimento duplo só para agradar aos outros e não, não me sinto suja porque não depilo tudo, simplesmente porque não sou suja e tomo banho todos os dias. Hoje acho que me influencio menos e faço mais o que me der vontade.

Me visto sem seguir muito a moda, mas do meu jeito. Gosto de feminilidade, gosto de referências antigas, gosto de me sentir bonita, gosto de imprimir visualmente o meu estilo. Mas não uso saia muito curta por causa da bunda grande herdada da minha avó e porque não gosto de ouvir besteiras quando ando na rua. Com o passar do tempo eu aprendi a disfarçar as imperfeições e a mostrar o que acho mais bonito, de forma sutil, é claro.

E qual a minha relação com o meu corpo afinal? Hoje não posso dizer que me sinta tão confortável como me sentia com vinte e poucos anos. Hoje não uso mais blusas curtas mostrando a barriguinha. Mas acho que tenho uma boa relação comigo mesma. Eu aprendi com o tempo, com o que me disseram e com o que vivi que meu corpo é meu e eu devo respeitá-lo e respeitar a mim, mostrando-o para quem eu quiser e achar que merece. É claro que, como mulher, eu vou lutar para que ele não envelheça tão rápido e vou acabar fazendo um botox ou coisa assim, mas acho que meu corpo é um troféu a ser cuidado, afinal ele é o resultado do que vivi e é com ele que vou viver o que provavelmente será a outra metade da minha vida, ou até mais.