Esses dias estava cheia de idéias na cabeça mas sem nenhuma coragem pra sentar aqui no meu banquinho e escrever. Acho que a minha cabeça tava meio sobrecarregada, aí me dei uns dias de folga de escrever, precisava dar um tempo pra mim mesma, cuidar de mim, da minha casa, dormir muito, ver tv e ficar longe da tela de computar que eu fico vendo umas 10 horas todos os dias no trabalho.
É impressionante como o tempo é transformador. O tempo cura, o tempo apaga, o tempo muda. Esses dias a médica me disse que eu teria de continuar meu tratamento até eu reconhecer a velha Be, reconhecer a mim mesma e eu disse pra el que isso jamais aconteceria, pois tantas coisas aconteceram que eu nunca mais vou ser igual á velha Be.
Pra mim, o tempo vem sendo bom, conselheiro, amigo e acho ótimo que ninguém acredite na minha real idade quando eu falo, sinto-me orgulhosa e é herança de família.... rsss
Ao mesmo tempo penso em como o tempo pode ser difícil, pesado, cansativo. Vejo isso claramente na minha avó, de quem eu morro de saudade. Não que eu não possa visitá-la, sim eu posso sempre que eu quiser, mas o tempo também a transformou. O tempo, somado às doenças fizeram dela hoje um filetinho do que ela foi um dia.
Minha avó nunca foi daquelas avós normais que fazem bolo, tricô e vêem novela. Ela era muito mais do que isso. Minha avó subia em árvore, atravessava a represa toda a nado, subia no telhado, gostava de mexer na terra, de plantar, de carregar peso, de fazer fogueira no quintal (e atrapalhar os vizinhos), de ir à feira e à todo lugar com seu carrinho de feira, de cortar madeira, de falar palavrão (em mais de um idioma)... Minha avó é uma das mulheres mais corajosas que ja conheci.
Ela me defendeu quando eu precisava, cuidou de mim e de todos os meus outros 13 primos sem reclamar, mas com muito prazer. Me levava para todos os lugares com ela, porque até pouco tempo eu morava com ela e aprendi quase tudo o que sei com ela, não que eu não tenha mãe, mas eu considero como se eu tivesse duas mães: uma que trabalhava muito muito e que eu via de vez em quando e a outra que eu convivia sempre, discutia, que me obrigava a comer coisas que eu não gostava a tarde toda de castigo, me fazia leite com nescau de manhã com pãozinho antes de ir pra escola, me ensinou a pintar, a usar roupas legais (minha avó pra sair usava capa, brincos bacanas, vstidos coloridos...) , a economizar e até a acumular tranqueiras.
Eu e minha avó ja rimos muito, ja fomos cumplices, ja contei segredos pra ela que minha mãe não sabe, cozinhávamos juntas, dançavamos valsas na sala de casa e ela me contava muitas muitas histórias.
Mas eu e minha avó temos um gênio bem dificil e por isso ja brigamos muito também. Mas quem nunca brigou com quem e por quem amamos?
Minha avó me ensinou que caminhar faz bem pra alma (o que eu tenho feito com frequência), pra mente, ela ficava feliz em tomar chuva, me ensinou a amar os animais, não só a mim mas toda a familia.
E hoje, como eu disse ela não é nem um décimo do que ela era. Antes ela me chamava de "minha companheira" porque eu ia com ela a todos os lugares, e como nós andavamos. Aprendi muito de História com ela, de gostar de prédios antigos, de coisas antigas.
Hoje minha avó está com quase 89 anos, precisa de ajuda para caminhar e por conta de 2 AVCs, infartos, seu coração está bem fraquinho e por isso ela quase não se lembra de nada, de nenhuma memória recente. Acho que isso é mais doloroso pra nós do que para ela.
Estou escrevendo poque venho sentindo muita muita saudade daquela mulher que andava comigo de mãos dadas, que me punha no colo e balançava porque dizia que dava cãimbra, mas eu amava o balanço das belas pernas dela. Sinto falta daquela mulher que me fazia miojo, que me dava doces, que comprava muitos muitos presentinhos pra mim e que hoje, quando eu vou segura-la pela mão para ajuda-la, ela diz: você é um amor, me da um beijo!
Hoje como ela fazia, eu durmo no chão, tento ser forte e indepentente, mas sei que não deve ter sido facil.
Eu sei que de alguma forma ela lembra de mim e de tudo o que passamos juntas, que nós éramos as companheiras. Eu sei que ela sabe e sente que eu a amo muito muito e que estou com muitas saudades da minha velha Hilllda, como eu a chamava e eu sei que o anjinho da guarda dela ta dando meu recado: Hillda Ich liebe Dich....pra sempre!