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Aqui uma coleção de imagens sobre o assunto |
Ok, eu vou
falar rápido, como quando tiramos um band aid: sim, eu tenho depressão!
E você aí
que está lendo, por favor, não se espante muito com essa informação, sabe por
que? Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) 121 milhões de pessoas no
mundo sofrem com essa doença, sendo ela a doença mais incapacitante da
atualidade e a tendência é que o número de pessoas aumente daqui para a frente.
E,ainda
assim, quando falamos desse assunto as pessoas arregalam os olhos, falam
baixinho, cochicham entre si, porque há um preconceito grande com relação a
essa doença, simplesmente porque quem nunca passou por ela não consegue ter ideia de
como ela é tendo apenas uma vaga noção pelo que vê nos filmes e na literatura. Eu posso dizer que é terrível, não é frescura e que não é, pelo menos não deveria ser, vergonha nenhuma.
Ainda, em
nossa sociedade simplesmente não é aceitável que você não esteja feliz. As
redes sociais nos forçam a passar para o mundo a imagem de felicidade constante
através das fotos e palavras que postamos. Se você está triste ou chateado o
tolerável é que poste no máximo uma indireta ali torcendo para que carapuças
sejam vestidas.
Mas sabe, é
bem difícil de ter um diagnóstico de que estamos realmente sofrendo com
depressão. Muitas vezes leva anos. Muitas vezes achamos que estamos bem, mas
ela acaba voltando bem devagarinho.
Mas que
raios vem a ser depressão? Eu sou uma pessoa extremamente curiosa e tenho lido mais e mais
sobre o assunto simplesmente porque eu acho que para vencer o inimigo é
necessário saber o máximo sobre ele e, no caso da depressão, também é
necessário que tenhamos um auto conhecimento maior. Ao contrário do que as
pessoas dizem, depressão não é simplesmente tristeza. A definição que mais
gosto vem de um autor chamado
Andrew Solomon que diz que o "oposto de
depressão não é alegria, mas sim vitalidade". Quando a depressão toma
conta, a falta de vitalidade faz com que a pessoa deixe de fazer as coisas que
mais gosta, deixe de cuidar das coisas do dia a dia, deixe de cuidar de si
mesma, e não por preguiça, mas por não ter energia para isso e nem para
nada.
As causas
podem ser inúmeras, podendo ser genéticas, podendo ser uma resposta a um
acontecimento da vida ou até sem um real motivo, mas todas elas tem em comum as
alterações bioquímicas dos neuro transmissores do cérebro. Para quem quiser ler
mais há links bem interessantes e de fácil leitura como
aqui e
aqui.
Mas e quais
os sintomas? Olha, são vários e para ser depressão eles tem que estar atuando
em conjunto, mas alguns deles são:
- Humor depressivo ou irritabilidade, ansiedade e angústia;
- Desânimo, cansaço fácil, necessidade de maior esforço para fazer as
coisas
- Diminuição ou incapacidade de sentir alegria e prazer em atividades
anteriormente consideradas agradáveis
- Desinteresse, falta de motivação e apatia
- Falta de vontade e indecisão
- Sentimentos de medo, insegurança, desesperança, desespero,
desamparo e vazio
- Pessimismo, ideias frequentes e desproporcionais de culpa, baixa
autoestima, sensação de falta de sentido na vida, inutilidade, ruína,
fracasso, doença ou morte.
- A pessoa pode desejar morrer, planejar uma forma de morrer ou
tentar suicídio
- Interpretação distorcida e negativa da realidade: tudo é visto sob
a ótica depressiva, um tom "cinzento" para si, os outros e o seu
mundo
- Dificuldade de concentração, raciocínio mais lento e esquecimento
- Diminuição do desempenho sexual (pode até manter atividade sexual,
mas sem a conotação prazerosa habitual) e da libido
- Perda ou aumento do apetite e do peso
- Distúrbios do sono;
- Dores e outros sintomas físicos não justificados por problemas
médicos. (fonte).
Se eu já senti esses efeitos? Sim, a maioria deles!
E não, não é culpa da pessoa. Depressão é uma doença, assim como qualquer outra
que precisa ser tratada corretamente. Como? Primeiro a pessoa tem que
reconhecer que está com algum problema, só assim após procurar um médico e
psicólogo, que são os profissionais que podem diagnosticar essa doença, a
pessoa vai ter a disciplina de tomar uma medicação diariamente e frequentar a
psicoterapia.
Tristeza é passageira, luto, seja pela perda de um
ente querido, seja o termino de um relacionamento, de um emprego ou algo
importante para a pessoa, vai amenizando, problemas superamos, mas para curar a
real depressão, precisamos mesmo de ajuda profissional de um psicólogo e/ou
médico.
Aí lendo tudo isso, se você estiver pensando:
"mas Be, pelo que eu vi até agora eu não tenho depressão, sorry por você,
mas isso não é comigo".Querido leitor você leu ali em cima no começo
quando eu disse que mais de 121 milhões de pessoas tem depressão, não foi? Isso
significa que com certeza alguém com quem você convive, alguém que você ama
pode estar sofrendo e talvez precisando de ajuda.
Você pode ajudar a pessoa a reconhecer em si os
sintomas que eu descrevi e, com a maior delicadeza, ajudá-la a procurar um
especialista, mas, se a pessoa já estiver diagnosticada e estiver começando o
tratamento há outras formas de ajudar, como? Vou dar alguns exemplos práticos
do
que não fazer e
o que fazer quando se convive com alguém com
depressão:
- Tenha paciência! E eu digo isso por dois motivos,
primeiro porque a depressão altera muito o foco fazendo com que a pessoa fique
mais dispersa, desligada e tenha maior dificuldades de raciocínio. Eu mesma
estou atualmente com dificuldade em fazer a coisa que mais amo na vida que é
ler livros. O segundo motivo é que a depressão nos traz uma visão mais negativa
das coisas e isso não significa que a pessoa seja negativa, mas por causa da
doença muitas vezes falta positividade quanto a nós e quanto aos outros, então
calma.
- Um dos sintomas da depressão é a culpa. Nos
culpamos por não conseguir fazer as coisas básicas, nos culpamos por não
conseguir acompanhar os amigos, nos culpamos por nos sentir sempre atrás nas
coisas, nos culpamos por não conseguir socializar e quando socializamos nos
culpamos por ter saído de casa porque nos sentimos cansados, irritados ou
lentos perto dos outros. Há culpa em tudo o que fazemos e isso é extremamente
cansativo. Então dizer coisas que relativizem e menosprezem o sofrimento não
ajuda, só aumenta a culpa, só cansa mais.
- Não force a barra! A gente sabe que precisa tomar
uma atitude, que praticar esportes faz bem e ajuda, que tomar sol e respirar ar
puro é bom porque nos auxilia com vitamina D. Mas, muitas vezes, o estágio da
depressão é tão alto que não é possível fazer essas coisas. É preciso um tempo
de tratamento para que a pessoa vá recobrando a energia e ela vá voltando aos
poucos no ritmo dela, respeite esse ritmo.
- Eu sei que muitas vezes as pessoas tem uma super
boa intenção quando me dão conselhos como procurar uma religião, ou fazer algum
trabalho pra distrair a mente seja artesanal ou pra ganhar dinheiro, ou que o
primo do vizinho da sua cunhada foi num lugar mágico e místico que fez bem pra
ela... mas a gente tende a ir em lugares de acordo com a nossa fé e de acordo
com o nosso próprio tempo. Viver com depressão é viver um dia de cada vez e, em
muitos dias, é uma vitória abrir a janela, ir até a padaria, conversar com o
porteiro... imagina fazer uma atividade que precise de criatividade? Imagine ir
a um lugar de fé, mas uma fé diferente da sua e pra você acreditar e entender
leva um tempo (lembra da dificuldade de aprendizado que eu disse ali em
cima?). Além disso cada pessoa é diferente da outra e nem sempre o que é bom para você vai ser bom para o outro.
- Não é pessoal, a gente continua a gostar de você,
mas em meio a uma crise de depressão nem sempre "te ver é ter beleza e
poesia" como diz o
Renato Russo. Muitas vezes é mais fácil ficar em
casa quieto com a TV ligada do que ter que lidar com os demais seres humanos.
Isso porque na nossa sociedade a gente tem que ficar dando justificativas pras
coisas que fazemos. Um exemplo: se você sai com amigos e diz que não está
bebendo porque está tomando medicação, eles vão querer saber em detalhes que
doença é, que remédio, por quanto tempo, o que aconteceu... já viu né? Se a
gente pedir um tempo, só nos dê um tempo que logo a gente volta.
- Ofereça ajuda, ouça, mas evite polêmicas,
assuntos demasiadamente pesados, cobranças. A depressão é extremamente cansativa
porque causa tensão muscular e outros sintomas físicos, mas é também cansativa
porque, apesar de estarmos mais quietos, a nossa cabeça está à mil, e a gente
está sempre em diálogo com nosso inconsciente, geralmente brigando com ele e
tentando afastar os pensamentos negativos. Imagina adicionar a isso mais
cobranças? Lembre-se que a depressão é altamente incapacitante e mesmo assim,
apesar de estarmos nos cuidando, o mundo lá fora continua a girar, as contas
continuam a chegar, temos que trabalhar e há a cobrança de todas as pessoas a
nosso redor.
- Conselhos são bem vindos, muito porque a
depressão reduz a nossa capacidade de tomar decisões porque o foco fica menor e
porque, em muitos casos como o meu, há sintomas de ansiedade quando o cérebro
pensa pensa pensa em todos os cenários possíveis para o momento da tomada de
decisão e o futuro todo após a decisão tomada. Dê o conselho se ele for pedido,
mas não tente impor sua opinião a qualquer custo. Nossa auto crítica já está à
níveis extremos e simplesmente não há espaço pra mais, colocar o dedo na ferida
só espanta a pessoa que você ama e com quem se importa. Os melhores
conselheiros nesse momento são o psiquiatra e o psicólogo porque eles estudaram
para isso e nos dão uma visão imparcial da situação, sem emoções pessoais.
"Agora
tomo um remédio de manhã. Que engulo como se fosse uma vitamina que a natureza
fez brotar para mim de uma frondosa árvore outonal. Nem sei o que estou
escrevendo, mas sei que não me parece química, de verdade. As pessoas me dizem:
“larga essa merda”. Segurando seus copos, seus cigarrinhos, seus vícios todos,
suas manias, suas madrugadas fritas, seus dias fazendo de conta que não é
assim, seus ipods, phones, pads. Quem é que larga essa merda? Quem é que para
de chacoalhar a perna, estalar o pescoço, ranger os dentes, torcer os dedos do
pé até soar um barulho relaxante de quebrado? Vamos como der".
Sabe, eu estou sempre ouvindo das pessoas "-
Mas você tá tomando remédio? Isso faz mal! Isso vicia! Isso é química! Assim
que você melhorar você pára". Toda vez que ouço isso eu penso: eu estou
bem porque, além da terapia, estou tomando remédio e parando de tomar o remédio
eu não vou ficar bem. Cada um na sua, cada um faz o que funciona para si. Tem
gente que fuma seu beck, tem gente que come, tem gente que toma coca cola todo
dia ou milhares de xícaras de café. Tem gente que faz sexo, tem gente que faz
massagem, tem gente que faz acupuntura, tem quem possa ir para Paris para
esquecer e acha que é um excelente tratamento. Eu tomo meu remédio e ele está
funcionando e pra mim, pra psicóloga, pro psiquiatra que me receitou isso é o
suficiente!
- Ajuda mesmo é companhia, solidariedade, empatia,
carinho, boa vontade;
- Ajuda muito mostrar disponibilidade, ainda que
não queiramos ver ninguém;
- Ajuda mostrar que a pessoa tem qualidades, porque
em muitos momentos a gente esquece disso. Mostre que você acredita, que se
importa e que não vai julgar;
- Você acha que não consegue ficar quieto sem dar
sua opinião? Você acha que é frescura? Você acha que tem que ir lá e fazer a
pessoa se mexer? Então guarde pra você tudo isso e não faça nada, no tempo
certo as coisas melhoram;
Usando uma analogia até simplória, quando
decidimos fazer terapia e tomar a medicação, é como se fôssemos uma caixa
novinha de quebra-cabeças: a caixa está ali bonitona, lacrada, mas para
montarmos a imagem que tem ali na caixa é necessário romper o lacre, espalhar
as peças, separá-las por algum método e só então ir encaixando as peças. É a
mesma coisa quando fazemos terapia, é preciso colocar as peças em ordem
e, por isso, nos sentimos revirados por dentro, com uma sensibilidade muito
maior. Cada vez que saímos de casa é como se jogássemos as peças de
volta para a caixa com tudo ainda não finalizado, porque pro mundo lá fora é
difícil aceitar a confusão de algo inacabado.Geralmente as pessoas se contentam
com a caixa, isto é, a aparência de saudável e isso evita perguntas e evita
exposição maior. Logo, se uma pessoa que você conhece te disser que está com
depressão, muito provavelmente ela confia em você, uma vez que ela está se
expondo em vista do preconceito que ela tem consigo mesma e também dos demais.
Honre essa confiança!
Sabe, o processo de cura é lento, leva meses
tomando medicações que tem péssimos efeitos colaterais, muitas vezes trocando
de profissionais e experimentando novas medicações. Ás vezes demoramos pra
acertar um psicólogo tanto por empatia pessoal, como pela linha de trabalho e
experiência do profissional (vai por mim, eu já passei com vários profissionais
e só agora acertei -obrigada Bele!!). Mas é preciso se lembrar que a pessoa não vai ser
assim pra sempre, que é uma doença que tem cura, e que no final do processo
haverá uma pessoa melhor com mais auto conhecimento e uma visão não mais
cinzenta, mas cheia de cor e vida. Mas é preciso ter paciência e fé,
principalmente em si mesmo.